fechar× Ligue-nos 284 602 163

Modelos de Fé – Nota do Bispo de Beja

1. Necessidade de modelos de vida

É natural termos pessoas ou figuras como modelos de conduta, para o bem ou para o mal, heróis ou vítimas da luta pela verdade, o amor e a justiça. Também os crentes têm os seus modelos. Na liturgia do segundo domingo da Quaresma escutámos o apelo de S. Paulo aos Filipenses: Irmãos: Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós. E qual era o modelo de S. Paulo? Nas suas cartas ouvimo-lo muitas vezes dizer: para mim viver é Cristo... Tudo considero como lixo comparado com Jesus Cristo. Então Paulo aponta-nos para Cristo, a quem os Filipenses conheceram pelas suas palavras e testemunho de vida.

Seria muito proveitoso para todos nós examinar quais são os nossos modelos de conduta e aprofundar as razões de os ter adotado e se realmente os seguimos. Precisamos de conhecer melhor os modelos da nossa fé, não apenas os do passado, mas também aqueles que no-los transmitiram, para os amarmos e seguirmos com maior fidelidade e verdade. Hoje vou apresentar como modelo uma grande figura da Igreja, que há um ano nos deixou, D. Manuel Falcão, bispo emérito de Beja.

 

2. D. Manuel Falcão, modelo de fé cristã

Na conclusão do seu opúsculo, acabado de escrever no dia 1 de janeiro de 2012, poucas semanas antes da morte e com o título: Uma existência envolta em mistérios, lemos como palavras de conclusão: O que aqui deixo escrito para os meus familiares e amigos mais íntimos, reflecte as minhas reflexões e meditações neste termo da minha vida, graças a mais tempo livre e sobretudo à perspectiva de ter de prestar contas a Deus de toda a minha vida, e de pensar que Ele, na sua misericórdia, me perdoa e me quer levar a com Ele conviver por toda a eternidade.

Aqui temos uma das últimas confissões de fé de D. Manuel Falcão, cuja vida e testemunho queremos novamente agradecer a Deus, na certeza de que ele convive para sempre com Deus, tendo-se cumprido a sua fé e esperança em Deus, em quem acreditou desde a infância e cuja fé testemunhou pela sua vida apostólica, por sua caridade e partilha fraterna com a diocese e muitos que a ele recorriam e também por seus escritos, repletos da sabedoria de Deus, muitos deles impressos em livros, revistas e jornais, alguns até em formato digital, como é o caso da Enciclopédia católica popular, a obra mais consultada na página oficial da Igreja Católica em Portugal, ecclesia.

Por toda a sua vida e ministério, grande parte a serviço desta diocese de Beja, estamos gratos a D. Manuel. Continuaremos a agradecer a Deus e a usufruir do seu legado, agora também da sua intercessão junto de Deus, para cuja visão face a face encaminhou toda a sua vida. Agora pode, com toda a verdade, dizer aquilo que S. Pedro proferiu no monte Tabor (Lc 9, 28-32): «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Agora proclama para sempre a glória de Deus, terminado na terra o longo processo da transfiguração em Cristo, como o citado opúsculo documenta.

Nascido em Lisboa, a 10 de Novembro de 1922, de pais e família cristã, D. Manuel Falcão aprendeu cedo a contemplar e acreditar nos mistérios da vida humana e do universo, orientando toda a sua vida, estudo e trabalho para a sua compreensão, sempre aberto à iluminação a partir de Deus, como um dom acolhido, acreditado, rezado, celebrado, testemunhado e vivido. A sua educação familiar, escolar, cultural e religiosa ajudaram a sua inteligência fulgurante a viver cada vez mais fascinado pelo mistério do mundo e de Deus, legando-nos testemunhos palpáveis dessa vida com sentido, planificada e orientada a partir daí. Isso foi bem notório a quem conviveu com ele mais de perto, como foi o meu caso, nos seus últimos treze anos de vida, que terminou a 21 de Fevereiro de 2012, durante o descanso da noite, adormecendo para sempre aqui na terra e acordando para a glória de Deus, na vida eterna.

Para expressar publicamente esta gratidão a D. Manuel e à família Franco Falcão, o bispo de Beja convocou os diocesanos para uma celebração na Sé catedral, a 24 de Fevereiro, pelas 18,00 horas, na qual participaram muitos membros do clero, seminaristas e numerosos fiéis e também alguns irmãos e sobrinhos de D. Manuel, a quem a diocese e a Igreja em Portugal deve eterna gratidão.

Aqui fica, uma vez mais, a expressão da nossa gratidão por tão claro e firme testemunho e modelo de fé, coerente na vida e nos seus escritos. Este agradecimento estende-se também ao Papa Bento XVI, que no dia 11 de Fevereiro anunciou a sua resignação para o dia 28. Ficará na história como testemunha luminosa da fé, em diálogo com a razão e a ciência, na viragem do século e confessor da verdade e coerência na vida da Igreja. Peço aos diocesanos oração agradecida por ele e suplicante pelo próximo Papa, que aguardamos ainda durante esta Quaresma.

 

† António Vitalino, bispo de Beja